Sem transparência e participação, Reforma é retrocesso
Tramita no Congresso Nacional a maior proposta de reforma do sistema eleitoral brasileiro das últimas três décadas. Os projetos, apesar de versarem sobre temas correlatos, estão sendo produzidos em diferentes fóruns legislativos, dificultando o diálogo democrático sobre temas centrais à vida política nacional. Os conteúdos dessas propostas sequer foram apresentados oficialmente, mas já há a sinalização de que poderão tramitar em regime de urgência. De acordo com declarações públicas dos principais envolvidos nesse processo, pretende-se levar as propostas à votação, especialmente o chamado Novo Código Eleitoral, no dia seguinte ao retorno das atividades legislativas. Ou seja, a reforma que estrutura a espinha dorsal da democracia brasileira está sendo construída sem transparência, tempo e participação da sociedade civil.
A julgar pelas minutas de textos legislativos que circulam informalmente nas redes sociais, essa proposta representa uma reforma de retrocessos. Prevê, por exemplo, o afrouxamento das regras de transparência, fiscalização e punição de irregularidades e retrocede os avanços já obtidos para a inclusão de mulheres e negros na política institucional. Além disso, estão sendo propostas mudanças como o Distritão e o Semipresidencialismo, que representam uma profunda alteração da democracia representativa como a conhecemos.
A circulação de minutas sem a publicização oficial limita a crítica social republicana que se exige dos sistemas democráticos. Uma reforma eleitoral secreta, articulada nos bastidores para ser apresentada na undécima hora e votada em regime urgência, não coaduna com os valores democráticos. Não cabem na democracia brasileira reformas eleitorais de portas fechadas.
Além do fato de que o regramento eleitoral do Brasil está sendo conduzido de forma antidemocrática e apresentar conteúdos que enfraquecem os pilares democráticos, tais medidas vêm em um momento em que a população brasileira busca forças para sobreviver à maior crise humanitária da nossa história recente. Diante de um cenário de 550 mil mortes em decorrência da Covid-19 e de vacinação caminhando a passos lentos, faz-se necessário questionar a urgência de tão grandiosa reforma na agenda do Congresso Nacional.
Por esse motivo, as organizações da sociedade civil abaixo listadas, vem a público manifestar a sua preocupação com esse projeto de reforma eleitoral à portas-fechadas.
Assinam essa nota:
- A Tenda das Candidatas
- ABI - Associação Brasileira de Imprensa
- Aliança Nacional LGBTI+
- Associação de Jornalismo Digital - Ajor
- Avaaz
- Cenpec
- CLP - Centro de Liderança Pública
- Engajamundo
- Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
- Fundação Tide Setubal
- Geledés Instituto da Mulher Negra
- Girl Up Brasil
- INESC Instituto de estudos socioeconômicos
- Instituto Alziras
- Instituto Cidade Democrática
- Instituto de Governo Aberto
- Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
- Instituto Igarapé
- Instituto Marielle Franco
- Instituto Pensamentos e Ações para defesa da Democracia
- Instituto Sou da Paz
- Instituto Vamos Juntas
- Kurytiba Metrópole
- Meu Voto Será Feminista
- Movimento Acredito
- Movimento Agora
- Movimento Político pela Unidade
- Neoliberais Brasil
- ONG Elas No Poder
- Open Knowledge Brasil
- ponteAponte
- Projeto Saúde e Alegria
- Rede Brasileira de Conselhos -RBdC
- Rede Conhecimento Social
- RenovaBR
- Revista AzMina
- Teto Brasil
- Transparência Partidária
- Uneafro Brasil
- Zanzalab